11 meses do incêndio na Kiss

Pais de jovem morta tiraram computador do quarto dela para acabar com ilusão de que filha voltaria

Marilice Daronco

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O notebook na frente do qual Rafaela Schmitt Nunes, 18 anos, passava a maior parte do seu tempo não pôde mais ficar no quarto onde ela dormia com uma das irmãs. Toda vez que a dona de casa Lenir Schmitt, 49 anos, entrava em casa, via o computador e sentia como se a qualquer momento a filha, morta na Kiss, pudesse voltar a usá-lo. Era uma dor forte demais para suportar.

Lenir e o marido dela, o técnico em telefonia Jorge Alberto dos Santos Nunes, 50 anos, ainda não conseguiram se desfazer das roupas da jovem, que estão dobradas nas gavetas nas quais ela as deixou. Algumas das inumeráveis fotografias que Rafaela gostava tanto de tirar foram reveladas e espalhadas pela casa, outras não chegaram a ser colocadas em porta-retratos, mas estão bem pertinho, para serem manuseadas sempre que bate aquela saudade.

Jorge Alberto, que fez 50 anos no dia em que a filha morreu, ainda não conseguiu forças para voltar a trabalhar. Ele passa a maior parte do tempo em casa, mas busca manter a cabeça ocupada para não ficar pensando sempre no que aconteceu.
_ No dia da tragédia, nossa outra filha, a Renata, chegou e me disse que nós dois teríamos de ser fortes para poder ajudar a minha mulher. Foi isso o que fiz. Fui o mais forte que consegui. Mas aí chegou um momento em que desabei. Então, fui procurar ajuda psicológica _ conta Nunes.

Segundo ele, a família deve passar este fim de ano reunida. A proximidade do nascimento de Pietro, o primeiro neto, previsto para fevereiro, tem sido motivo para que eles queiram ainda mais conseguir uma forma de recomeçar.
_ Tem noites que a Lenir ainda acorda chorando. Procuro ajudá-la. E, às vezes, essa ajudar não é falar, nem ouvir, é simplesmente mostrar que estou perto, é abraçá-la, fazê-la ter certeza de que pode contar comigo _ comenta Nunes.

Lenir já tinha ouvido a filha ler muitos dos textos que gostava de escrever. A jovem mantinha um blog, chamado Reflexos Insanos, o qual a família começou a acessar com frequência depois da morte da garota. Em um dos textos, de 2011, Rafaela diz: "Estou feliz. Simplesmente. E falar de felicidade é a coisa mais difícil do mundo, honestamente. Mas vale ressaltar que eu tenho muita vontade. De tudo.

De viver, de fazer alguém feliz, de me dedicar, de estudar... ter uma vida longa e ter tudo que eu quero em minhas mãos". Esse tipo de pensamento da jovem também tem motivado a família a seguir em frente.
_ Ela queria muito ser feliz. Lutava por isso. E sempre queria também ver felizes aqueles que estavam a sua volta. Isso é uma motivação para nós. Não torna as coisas mais fáceis, mas é uma motivação _ diz Lenir, que, assim como o marido, carrega um bóton escrito saudades em seu peito. E a dor pela ausência da filha fica ainda mais evidente em seu olhar, que ainda muito se enche de lágrimas.

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